domingo, 17 de julho de 2011

La Mouffe - Paris






* Este post, por expressar o que eu realmente 
queria dizer, foi tirado do blogue Viver Paris.


Que tal uma pequena visita à famosa rue Mouffetard, uma das mais antigas e encantadoras ruas de Paris? Seu ambiente com jeitão de cidade interiorana, seu mercado e seu passado de artes faz deste um lugar emblemático na margem esquerda, onde se cruzam estudantes, residentes e turistas em busca de autenticidade.

O bairro Mouffetard-Contrescarpe goza de uma situação privilegiada: é localizado a dois passos do Panthéon, o imponente monumento guardião da memória francesa, onde descansam algumas das grandes personalidades que escreveram seus nomes nas paginas da historia, como Voltaire, Malraux e Rousseau. Alguns metros mais adiante estão as arenas de Lutécia. Construídas no século I, constituem um dos últimos vestígios da Roma Antiga ainda visíveis em Paris. E ali ao lado fica o Quartier Latin, lugar de estudos por excelência, marcado pela evolução da historia política, social e literária parisiense.



Com sua longa e suave inclinação que se estende pelos seus 650 metros (dos quais metade é reservada para pedestres), a rue Mouffetard (também chamada de “la Mouffe” – algo cada vez mais raro de se ouvir) começa na place de la Contrescarpe e termina perto da igreja de Saint-Médard, não distante da estação do metrô les Gobelins. Oferece ao olhar atendo dos visitantes a agradável visão de suas bonitas casas antigas, dos bistrôs convidativos, dos restaurantes de pratos generosos, do mercado muito conhecido pelos sabores da terra-mãe, do cinema de arte e de ensaio, da grande biblioteca de quatro andares, do boliche, dos terraços de café a perder de vista… É sem dúvida alguma a rua mais animada de um bairro conhecido por sua tranqüilidade.

Na place de la Contrescarpe, criada em 1852, a atmosfera é inimitável. À noite as luzes cintilam, os turistas misturam-se aos habitantes e os vendedores de crepe fazem fortuna enquanto os músicos de rua nos presenteiam com um ambiente festivo e descontraido. Então sim, constatamos que o bairro tornou-se ligeiramente boêmio - mas isso já não nos diz muita coisa hoje em dia. O que sei de fato é que ali é um ótimo lugar para se exercer aquilo o que chamo de “boa vida”. Seja simplesmente para passear ou mesmo para instalar-se por lá por um período indeterminado (por que não?).



Já havia vestígios da rue Mouffetard desde a Roma Antiga, no século I. Não levava ainda esse nome, mas já era bastante freqüentada, pois ligava Lutécia à atual Ivry - fora batizada de Mont-Cétard, em algum momento do século XVII. E até hoje ocorrem divergências sobre a origem do nome atual. Alguns dizem que é apenas uma mutação temporal de Mont-Cétard para Mouffetard que deu nome à rua, outros falam que seu nome vem em referência ao cheiro que vinha dos curtumes às margens do rio Castor (o qual era chamado de “moffette”). Hoje esquecido, o Castor era um rio de 40 quilômetros que nascia no Yvelines e se lançava no Sena dentro de Paris. Atravessava a rue Mouffetard próximo à igreja de Saint-Médard, antes de ser preenchido com concreto em 1850. Em 1868, o barão Haussmann empreende seus importantes trabalhos: a rue Mouffetard que se prolongava até a place d’Italie é encurtada pela metade - a outra parte se torna a avenue de Gobelins. E desde então está da maneira como a conhecemos.

Durante suas estadas parisienses, o escritor Ernest Hemingway muda muito freqüentemente e aluga um quarto na rue de Descartes, um prolongamento da rue Mouffetard. A rua sai diretamente na place de la Contrescarpe, o número é o 39. Pouco antes da sua morte, Hemingway tinha lançado as bases do seu livro Paris é uma festa, que foi sua primeira obra publicada de maneira póstuma. Uma placa foi afixada à parede: “De janeiro de 1922 a agosto de 1923 viveu no terceiro andar deste edifício, com Hadley sua esposa, o escritor americano. O bairro que tanto gostava foi o verdadeiro lugar de nascimento da sua obra e do estilo narrativo que o caracterizava.”Seguida da citação: “Tal era a Paris da nossa juventude, do tempo onde estávamos muito pobres e muito felizes.”
Dizem que o fantasma benevolente de Hemingway sempre passeia pela place de la Contrescarpe, e que visivelmente ele não está só: podemos ver Rabelais, Descartes, Diderot, Verlaine ou mesmo Piaf. Todos habitantes ou freqüentadores assíduos do bairro que tanto apreciavam pela sua autenticidade e o seu encanto tipicamente parisiense. Felizes para sempre.

Metrô: Place Monge ou Cencier Daubenton linha 7

No inicio do post, a famosa foto de Henri Cartier-Bresson: Rue Mouffetard 1954, Paris.


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